sexta-feira, 12 de outubro de 2012


Entrevista com o nosso Prof. Luiz Fernando Gomes

Notícia publicada na edição de 10/10/2012 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 12 do caderno A


Educação 3.0: a tecnologia que está a serviço do ensino

 
 

Professores devem estar prontos para alunos cada vez mais conectados e informados

 
 

Daniela Jacinto
daniela.jacinto@jcruzeiro.com.br



A Educação é uma das áreas que mais tem estudos, conceitos e teorias para o aprimoramento do processo ensino-aprendizagem. São tantas as propostas que muitas vezes sequer chegam a ser praticadas nas escolas: ficam limitadas a ideais a serem alcançados um dia. Na atualidade, muito tem se falado sobre o conceito de Educação 3.0, mas afinal do que se trata exatamente? Durante o congresso InovaEduca3.0 realizado no dia 1º de outubro em São Paulo, o professor John Moravec, da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, esclareceu que trata-se do paradigma da educação associado com a Sociedade 3.0.


O professor Moravec explicou: "A sociedade 1.0 foi a passagem da sociedade agrícola para a industrial, entre os séculos 18 e 20. A 2.0 é associada com a emergência da sociedade do conhecimento, que começou no século 20, ligada à criação e ao compartilhamento de conhecimento em sistemas mais complexos. Já a sociedade 3.0 é impulsionada pela aceleração das mudanças tecnológicas e sociais, e caracterizada pela presença da globalização, horizontalização do conhecimento e relacionamentos, e uma sociedade orientada pela inovação dos cidadãos", afirmou.


Nesse sentido, seis pilares definem uma Escola 3.0, conforme acrescentou Jim Lengel, consultor e professor da Universidade de Nova York: nela, os estudantes trabalham em problemas que valem a pena ser resolvidos (problemas que afetam a comunidade onde vivem); trabalham de forma colaborativa com os professores; desenvolvem pesquisas autodirecionadas; aprendem como contar uma boa história; aplicam ferramentas adequadas para cada tarefa; e são estimulados a serem curiosos e criativos.


E como são os professores? Eles devem estar prontos para lidar com alunos cada vez mais conectados e informados e que, muito mais do que mestres, querem encontrar mentores capazes de facilitar o processo de aprendizado e aptos a direcioná-los para a solução de problemas que irão enfrentar para construir uma sociedade melhor. São desafios demandados pela Geração Y, a geração da internet, que tem gerado uma demanda pela revolução digital nas escolas.


Tecnologia como aliada do ensino


O termo Educação 3.0 foi usado pela primeira vez em 2007 pelo professor Derek Keats, da Universidade de Witwatersrand, de Joanesburgo (África do Sul), porém o conceito vem sendo amplamente difundido nos Estados Unidos. Em Nova York, 16 escolas já estão afinadas com as propostas.

De acordo com Jim Lengel, a tecnologia digital deixa a sala de aula mais viva, instigante. "O professor apresenta uma ideia ilustrada por imagens, som, voz e música; os alunos acompanham a aula em seus dispositivos móveis, com links para conteúdos referenciados, estimulando que façam perguntas mais profundas e discutam temas complexos com seus pares. E, após a aula, a aprendizagem continua: os estudantes pesquisam e criam suas próprias soluções e apresentações, muitas vezes junto a um grupo de estudo virtual."

Lengel afirma que muito do que é apresentado hoje na sala de aula, como a dissertação e exposição dos conteúdos pelo professor, será acessado em casa ou no ônibus pelos estudantes, reservando-se o tempo de aula para lidar com os pontos difíceis. Ainda na Escola 3.0 o aluno raramente entrega seus trabalhos em papel. Em vez disso, mantém um portfólio online, uma coleção de trabalhos que fornecem evidências de aprendizagem para os professores e pode ser usado posteriormente para a admissão para a faculdade ou entrevista de emprego.

Tudo isso parece muito utópico, mas conforme o professor, o Brasil já está evoluindo nesse aspecto. "O País está fazendo grandes investimentos na educação, desenvolvendo novas capacidades, especialmente no ensino secundário e universitário, para preparar seus cidadãos para uma economia moderna e uma democracia participativa", afirma. Lengel cita exemplos de grupos educativos avançados, tais como o Senai em Santa Catarina, que estão projetando novas escolas em torno dos princípios da Educação 3.0, bem como programas de formação de professores no Estado de São Paulo, que estão preparando educadores com habilidades importantes no ensino e aprendizado digital.


Professor alerta: cuidado com as novidades


Para o professor doutor Luiz Fernando Gomes, do programa de pós-graduação em Educação da Universidade de Sorocaba (Uniso) e coordenador do Centro de Educação e Tecnologia da mesma universidade, é preciso ter cuidado com as novidades. "Precisamos olhar esses ditos novos conceitos com certa parcimônia. A ideia de chamar de 3.0 faz referência a ser melhor, superior, está associada a nomenclaturas de informática. Esse conceito está na esteira da Web 1.0, surgida em 1994. Depois veio a Web 2.0, que a gente pode participar mais porque temos como colocar nossos conteúdos na internet, ou seja, é uma web mais participativa", esclarece.

Para
Luiz Fernando, a tecnologia e a educação ainda não fizeram as pazes. "Enquanto nós, educadores, estamos procurando caminhos para conciliar o potencial pedagógico com as tecnologias, surgem novas tecnologias, sempre desafiando os professores para seu uso educacional. Nem o que é anterior está assimilado e já vem outra coisa. Por exemplo, nós nem bem entendemos como usar o data show em sala de aula e veio a lousa digital. A gente nem conseguiu entender direito a lousa digital e ela está ficando para trás com os tablets, então imagina a quantidade de desafios pedagógicos para os professores acompanharem a voracidade da criação tecnológica", observa.

Em contraponto a tudo isso, o professor faz um alerta. "As propostas da Educação 3.0 são as propostas que nós, educadores, discutimos desde que começamos a trabalhar com a educação. Não é nada novo. A tendência é trabalhar de forma menos vertical e mais horizontalizada com o aluno, entre outras ideias da Educação 3.0, que fala de práticas já amplamente discutidas".

Na visão de Luiz Fernando, a proposta de uma educação mais aliada da tecnologia é algo idealizado. "Nós idealizamos os professores, os alunos e a escola e nos esquecemos que as pessoas não são o ideal, são o real, o que é possível ser. Na educação as coisas acontecem num tempo muito diferente do que acontece na informática. Na educação as coisas são mais lentas. A tecnologia é voraz, vive de vender produtos novos, nasceu para não saciar, é quase um fast food e a educação é o contrário disso, ela pretende mastigar mais devagar para ficar mais tempo nutrindo", pondera.

Os professores, ainda conforme Luiz Fernando, são instigados a acompanhar certas tendências e modismos tecnológicos sem estar convencidos de que as novas ferramentas serão aliadas. "Eles ficam sem saber como fazer, envergonhados por acharem que os alunos estão mais à frente por causa disso. É um olhar invertido. O correto é pensar em como a tecnologia pode servir a educação e não o contrário", observa.


Prof. Dr, Luiz Fernando Gomes


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