Nosso
quinto encontro:
02 outubro de 2012
- Hoje o foco do nosso encontro foi a defesa de dissertação da Daniela Miranda, orientada do Prof. Luiz Fernando Gomes. Já passei por esse momento e posso afirmar que é um dia muito especial em nossas vidas; mais uma conquista.
- Para mim, assistir as defesas de dissertação ou tese sempre é uma aprendizagem, os professores examinadores sempre contribuem com as suas orientações e sugestões.
- Em relação a defesa da Daniela destaco alguns comentários gerais sobre o assunto abordado (letramento visual e digital – blogs na língua inglesa) e não comentários pontuais sobre a dissertação. O título da dissertação: Contribuições dos letramentos digital e visual na aprendizagem de língua inglesa.
- Os professores participantes da banca examinadora foram: Prof. Dr. Marcelo El Khouri Buzato e a Prof.ª Dr ª Eliete Jussara Nogueira.
- ¨Poucas pessoas conseguem fazer a leitura de outdoor, inclusive alunos da academia¨ (Prof. Marcelo Buzato).
- O critério dos alunos na escolha das imagens no Google são: mais fácil, mais bonito e mais rápido. Essa é a marca do mundo contemporâneo (Prof.ª Eliete).
- ¨Quem se preocupa com a aprendizagem é o professor, o aluno está preocupado em aprender¨ (Prof.ª Eliete).
- ¨O professor tem que ser autônomo; mesmo que ele tenha uma apostila, o professor não é mero reprodutor do material. O professor deve usar o material para provocar e promover transformações¨ (Prof.ª Eliete).
- Discussão: A importância da postura do professor no ensino e aprendizagem do aluno. A intervenção do professor pode modificar a aprendizagem.
- ¨Os alunos se projetam nas imagens¨ (Prof.ª Eliete).
- Compartilho com vocês uma resenha que fiz no semestre passado de um artigo do Prof. Dr. Marcelo El Khouri Buzato que tem como tema central de discussão a relação entre inclusão tecnológica e letramento.
Resenhista:
Margly O. G. de Carvalho
Nome
do autor: Marcelo El Khouri Buzato
Título
da obra: Letramento e inclusão: do estado-nação à era das TIC
Publicação:
D.E.L.T.A, 25: 1, 2009
Páginas:
1- 38
O trabalho ¨ Letramento
e inclusão: do estado-nação à era das TIC¨ realizado pelo Doutor
em Linguistica Aplicada, Marcelo El Khouri Buzato, tem como tema
central de discussão a relação entre inclusão tecnológica e
letramento. O artigo está subdividido em: Introdução;
Alfabetização ou letramento?; Perspectivas históricas de
letramento e inclusão; A perspectiva sociocultural; Desdobramentos
do mundo pós-nacional; Inclusão e transculturalidade; Letramento(s)
Digital(is): problematizando o conceito; Concepções de inclusão
digital e o papel dos LD; As três concepções. Na introdução o
autor discute o significado do termo inclusão digital, fazendo um
parêntese ao citar a palavra inclusão, a qual conota para o sentido
de hegemonia, isto é, para uma subordinação de significados,
valores, e crenças das classes subservidas pelo país aos das
classes que dele se serve. O termo inclusão digital tenta expressar
que certos meios e/ou tecnologias podem ser aplicados de maneira
planejada, eficaz e previsível ao desenvolvimento social. De acordo
com o autor: ¨assim como uma visão de linguagem é também uma
visão de inclusão, também a toda visão ou modelo de letramento
estão atreladas uma concepção de linguagem e uma concepção de
sociedade¨. Buzato, ao mencionar a relação intrínseca entre
sujeito e língua, afirma que o sujeito é um ser histórico, aberto
(em processo contínuo de construção de sua identidade) e imerso no
diálogo e, por outro, alguém que se apoia/depende, em alguma
medida, de sistema linguístico num dado momento para estabelecer a
ponte, o contato com o outro. O diálogo é uma troca ou discussão
de ideias que se apropria da língua como meio de abertura e
expressividade.
No artigo, Marcelo
Buzato convida o leitor a refletir com ele a respeito de como
linguagem, tecnologia e sociedade têm aparecido entrelaçados nas
práticas de leitura e escrita, e como essas práticas têm sido
usadas para legitimar visões de inclusão no período que vai desde
a gênese do Estado-nação (modernidade ilustrada, capitalismo
industrial) até o ápice da globalização (modernidade tardia,
capitalismo em rede).
Ao discorrer sobre
¨Alfabetização ou letramento?¨, o autor destaca que não se trata
apenas de reconhecer que o acesso às TIC pressupõe a capacidade de
receber e produzir informações por meio de dispositivos digitais,
algo que a compreensão leiga de inclusão digital costuma denominar
¨alfabetização digital¨. Trata-se de ampliar qualitativamente o
debate sobre inclusão e tecnologia, contrastando a ideia mais
restrita de alfabetização com a noção mais ampla e socialmente
significativa de letramento. O termo alfabetização digital pode
variar bastante entre os diferentes contextos disciplinares, porém,
se a inclusão digital for entendida como dependente do uso,
transformação e aplicação das TIC em favor de interesses e
necessidades do país, requer muito mais do que acesso e capacitação
básica. Buzato menciona que utiliza em seu artigo o termo letramento
tanto no singular quanto no plural. Quando no singular, denotará o
fenômeno em seu aspecto histórico e/ou macrossocial, ou
caracterizado como um processo de aquisição da escrita em suas
diferentes formas. Quando no plural, denotará tanto os diferentes
conjuntos de práticas e tecnologias associados à construção de
sentidos compartilhados socialmente, quanto aos diferentes
significados e funções dessas práticas em contextos socioculturais
diversos.
Marcelo Buzato, ao fazer
referência às ¨perspectivas histórias de letramento e
inclusão¨, toma como ponto de partida um momento histórico da
relação entre linguagem, tecnologia e inclusão que se estende do
final do século XVIII a meados do século XX: a gênese e
implantação do Estado-nação. De acordo com o autor, a escola foi
se tornando, ao longo da história, num mecanismo institucionalizado
de exclusão daqueles que nela chegam sem o domínio dos códigos
culturais sem as disposições relativas ao trabalho intelectual que
caracterizam as elites. Ao longo dos séculos XIX e XX, ao mesmo
tempo em que os excluídos tradicionais (mulheres, afrodescendentes,
imigrantes) foram incorporados a um sistema escolar, os letramentos
praticados na família, na comunidade, na igreja, nos locais de
trabalho, e outros, foram fortemente deslegitimados. Buzato, em suas
reflexões, afirma que a escola como principal agência de letramento
das populações, fez e continua a fazer do letramento muito mais um
mecanismo de homogeneização, exclusão e submissão do que de
inclusão, expressão de diferença e transformação social.
Ao referir-se aos
estudos de letramento, o autor comenta dois marcos conceituais desses
estudos, que são as distinções entre modelo autônomo e modelo
ideológico do letramento, e entre evento de letramento e
prática de letramento. BuzatvTectaca que uma daUfCgsequências mais importantes do enfoque nos eventos de letramento
é que ele elimina a dicotomia entre oralidade e escrita – até
então tomada como pressuposto – e demonstra existir nas práticas
interpretativas da escrita um entremeamento de códigos, registros e
modalidades linguísticas e semióticas, de modo que os sentidos são
sempre negociados e construídos interativamente. Segundo o autor,
temos que admitir que não apenas há letramentos diferentes em
diferentes contextos, mas também que cada letramento e cada contexto
é fundamentalmente heterogêneo, mutável e conectado à outros.
Conforme Marcelo Buzato,
alguns autores apontam que as mutações na identidade, na cidadania
e no ideal da inclusão afetam dois pilares das teorias de letramento
de cunho sociocultural. Primeiro, a noção de sujeito situado,
enraizado num mesmo lugar e/ou num espaço cultural homogêneo, no
qual florescem laços de solidariedade e visões de mundo
compartilhadas começa a ser relativizada. Segundo, o pressuposto de
que o contexto cultural é algo delimitável territorialmente, e que
pré-existe às próprias práticas de linguagem tem sido revisto.
O autor ao expor e
analisar sobre Letramento Digital (LD) menciona que muitos outros
autores têm buscado descrever e avaliar as diferentes aplicações e
implicações da textualidade digital em diferentes âmbitos, como
por exemplo, no da produção de materiais didáticos, no da
comunicação jornalística e no da formação de leitores críticos.
Buzato, nas suas reflexões, afirma que os letramentos digitais não
são apenas, ou necessariamente, aqueles situados num contexto
cultural/institucional/midiático particular, mas configurações
específicas desses letramentos em rede acionadas em situações,
para finalidades e/ou por sujeitos e comunidades de prática
específicas. Porém, o potencial dos letramentos digitais para a
formação de cidadãos críticos não se manifestará, apenas pelo
contato dos sujeitos com o texto ou o meio; como no caso dos
letramentos ditos tradicionais, a criticidade estará sempre na forma
como o texto é interpretado e o meio praticado. Buzato finaliza o
artigo de modo breve e conclusivo: ¨há que se pensar em uma ética
de deixar fluir, transitar, conectar, como pressuposto para uma
cidadania que preceda qualquer forma de territorialidade, lealdade ou
capacitação¨.
Ao fazer referência ao
letramento destacamos: a prática situada, o uso social da leitura e
escrita, e os seus diversos usos. Esses comportamentos são
agrupados em duas grandes dimensões: a dimensão individual e a
dimensão social. A dimensão individual visa o ¨próprio¨
interesse do indivíduo e consequentemente está associado à sua
evolução ou ¨crescimento¨ pessoal. A dimensão social enfoca o
contexto em que o indivíduo está inserido, e tem como destaque a
autonomia e a ideologia.
Marcelo Buzato, em seus
estudos, afirma que pessoas alfabetizadas não são necessariamente
pessoas letradas. Para o autor, mesmo sabendo "ler e escrever",
isto é, codificar e decodificar mensagens escritas, muitas pessoas
não aprenderam a construir uma argumentação, redigir um convite
formal, interpretar um gráfico, encontrar um livro em um catálogo,
etc. Esse tipo de conhecimento se constrói na prática social e não
na aprendizagem do código por si só. Segundo Buzato, tem gente que
acha que o problema da exclusão digital se resolve comprando
computadores para a população de baixa renda e ensinando as pessoas
a utilizarem esse ou aquele software. A inclusão implica em
práticas sociais em que o computador tem um papel relevante, e que
levem as pessoas, aos poucos, e de forma cada vez mais autônoma, a
desenvolver determinadas habilidades. O letramento digital inclui a
habilidade para construir sentido a partir de textos que mesclam
palavras, elementos pictóricos e sonoros numa mesma superfície
(textos multimodais), a capacidade para localizar, filtrar e avaliar
criticamente informação disponibilizada eletronicamente,
familiaridade com as "normas" que regem a comunicação com
outras pessoas através do computador (Comunicação Mediada por
Computador ou CMC), entre outras coisas. Resumindo, segundo o autor,
letramento digital (LD), é o conjunto de conhecimentos que permite
às pessoas participarem nas práticas letradas mediadas por
computadores e outros dispositivos eletrônicos no mundo
contemporâneo.
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