sábado, 6 de outubro de 2012


Nosso quinto encontro: 02 outubro de 2012


  • Hoje o foco do nosso encontro foi a defesa de dissertação da Daniela Miranda, orientada do Prof. Luiz Fernando Gomes. Já passei por esse momento e posso afirmar que é um dia muito especial em nossas vidas; mais uma conquista.
  • Para mim, assistir as defesas de dissertação ou tese sempre é uma aprendizagem, os professores examinadores sempre contribuem com as suas orientações e sugestões.
  • Em relação a defesa da Daniela destaco alguns comentários gerais sobre o assunto abordado (letramento visual e digital – blogs na língua inglesa) e não comentários pontuais sobre a dissertação. O título da dissertação: Contribuições dos letramentos digital e visual na aprendizagem de língua inglesa.
  • Os professores participantes da banca examinadora foram: Prof. Dr. Marcelo El Khouri Buzato e a Prof.ª Dr ª Eliete Jussara Nogueira.
  • ¨Poucas pessoas conseguem fazer a leitura de outdoor, inclusive alunos da academia¨ (Prof. Marcelo Buzato).
  • O critério dos alunos na escolha das imagens no Google são: mais fácil, mais bonito e mais rápido. Essa é a marca do mundo contemporâneo (Prof.ª Eliete).
  • ¨Quem se preocupa com a aprendizagem é o professor, o aluno está preocupado em aprender¨ (Prof.ª Eliete).
  • ¨O professor tem que ser autônomo; mesmo que ele tenha uma apostila, o professor não é mero reprodutor do material. O professor deve usar o material para provocar e promover transformações¨ (Prof.ª Eliete).
  • Discussão: A importância da postura do professor no ensino e aprendizagem do aluno. A intervenção do professor pode modificar a aprendizagem.
  • ¨Os alunos se projetam nas imagens¨ (Prof.ª Eliete).
  • Compartilho com vocês uma resenha que fiz no semestre passado de um artigo do Prof. Dr. Marcelo El Khouri Buzato que tem como tema central de discussão a relação entre inclusão tecnológica e letramento.

Resenhista: Margly O. G. de Carvalho

Nome do autor: Marcelo El Khouri Buzato

Título da obra: Letramento e inclusão: do estado-nação à era das TIC

Publicação: D.E.L.T.A, 25: 1, 2009

Fonte: < http://www.scielo.br/pdf/delta/v25n1/a01v25n1.pdf>. Acesso: 20 fev. 2012.

Páginas: 1- 38



O trabalho ¨ Letramento e inclusão: do estado-nação à era das TIC¨ realizado pelo Doutor em Linguistica Aplicada, Marcelo El Khouri Buzato, tem como tema central de discussão a relação entre inclusão tecnológica e letramento. O artigo está subdividido em: Introdução; Alfabetização ou letramento?; Perspectivas históricas de letramento e inclusão; A perspectiva sociocultural; Desdobramentos do mundo pós-nacional; Inclusão e transculturalidade; Letramento(s) Digital(is): problematizando o conceito; Concepções de inclusão digital e o papel dos LD; As três concepções. Na introdução o autor discute o significado do termo inclusão digital, fazendo um parêntese ao citar a palavra inclusão, a qual conota para o sentido de hegemonia, isto é, para uma subordinação de significados, valores, e crenças das classes subservidas pelo país aos das classes que dele se serve. O termo inclusão digital tenta expressar que certos meios e/ou tecnologias podem ser aplicados de maneira planejada, eficaz e previsível ao desenvolvimento social. De acordo com o autor: ¨assim como uma visão de linguagem é também uma visão de inclusão, também a toda visão ou modelo de letramento estão atreladas uma concepção de linguagem e uma concepção de sociedade¨. Buzato, ao mencionar a relação intrínseca entre sujeito e língua, afirma que o sujeito é um ser histórico, aberto (em processo contínuo de construção de sua identidade) e imerso no diálogo e, por outro, alguém que se apoia/depende, em alguma medida, de sistema linguístico num dado momento para estabelecer a ponte, o contato com o outro. O diálogo é uma troca ou discussão de ideias que se apropria da língua como meio de abertura e expressividade.

No artigo, Marcelo Buzato convida o leitor a refletir com ele a respeito de como linguagem, tecnologia e sociedade têm aparecido entrelaçados nas práticas de leitura e escrita, e como essas práticas têm sido usadas para legitimar visões de inclusão no período que vai desde a gênese do Estado-nação (modernidade ilustrada, capitalismo industrial) até o ápice da globalização (modernidade tardia, capitalismo em rede).

Ao discorrer sobre ¨Alfabetização ou letramento?¨, o autor destaca que não se trata apenas de reconhecer que o acesso às TIC pressupõe a capacidade de receber e produzir informações por meio de dispositivos digitais, algo que a compreensão leiga de inclusão digital costuma denominar ¨alfabetização digital¨. Trata-se de ampliar qualitativamente o debate sobre inclusão e tecnologia, contrastando a ideia mais restrita de alfabetização com a noção mais ampla e socialmente significativa de letramento. O termo alfabetização digital pode variar bastante entre os diferentes contextos disciplinares, porém, se a inclusão digital for entendida como dependente do uso, transformação e aplicação das TIC em favor de interesses e necessidades do país, requer muito mais do que acesso e capacitação básica. Buzato menciona que utiliza em seu artigo o termo letramento tanto no singular quanto no plural. Quando no singular, denotará o fenômeno em seu aspecto histórico e/ou macrossocial, ou caracterizado como um processo de aquisição da escrita em suas diferentes formas. Quando no plural, denotará tanto os diferentes conjuntos de práticas e tecnologias associados à construção de sentidos compartilhados socialmente, quanto aos diferentes significados e funções dessas práticas em contextos socioculturais diversos.

Marcelo Buzato, ao fazer referência às ¨perspectivas histórias de letramento e inclusão¨, toma como ponto de partida um momento histórico da relação entre linguagem, tecnologia e inclusão que se estende do final do século XVIII a meados do século XX: a gênese e implantação do Estado-nação. De acordo com o autor, a escola foi se tornando, ao longo da história, num mecanismo institucionalizado de exclusão daqueles que nela chegam sem o domínio dos códigos culturais sem as disposições relativas ao trabalho intelectual que caracterizam as elites. Ao longo dos séculos XIX e XX, ao mesmo tempo em que os excluídos tradicionais (mulheres, afrodescendentes, imigrantes) foram incorporados a um sistema escolar, os letramentos praticados na família, na comunidade, na igreja, nos locais de trabalho, e outros, foram fortemente deslegitimados. Buzato, em suas reflexões, afirma que a escola como principal agência de letramento das populações, fez e continua a fazer do letramento muito mais um mecanismo de homogeneização, exclusão e submissão do que de inclusão, expressão de diferença e transformação social.

Ao referir-se aos estudos de letramento, o autor comenta dois marcos conceituais desses estudos, que são as distinções entre modelo autônomo e modelo ideológico do letramento, e entre evento de letramento e prática de letramento. BuzatvTectaca que uma daUfCgsequências mais importantes do enfoque nos eventos de letramento é que ele elimina a dicotomia entre oralidade e escrita – até então tomada como pressuposto – e demonstra existir nas práticas interpretativas da escrita um entremeamento de códigos, registros e modalidades linguísticas e semióticas, de modo que os sentidos são sempre negociados e construídos interativamente. Segundo o autor, temos que admitir que não apenas há letramentos diferentes em diferentes contextos, mas também que cada letramento e cada contexto é fundamentalmente heterogêneo, mutável e conectado à outros.

Conforme Marcelo Buzato, alguns autores apontam que as mutações na identidade, na cidadania e no ideal da inclusão afetam dois pilares das teorias de letramento de cunho sociocultural. Primeiro, a noção de sujeito situado, enraizado num mesmo lugar e/ou num espaço cultural homogêneo, no qual florescem laços de solidariedade e visões de mundo compartilhadas começa a ser relativizada. Segundo, o pressuposto de que o contexto cultural é algo delimitável territorialmente, e que pré-existe às próprias práticas de linguagem tem sido revisto.

O autor ao expor e analisar sobre Letramento Digital (LD) menciona que muitos outros autores têm buscado descrever e avaliar as diferentes aplicações e implicações da textualidade digital em diferentes âmbitos, como por exemplo, no da produção de materiais didáticos, no da comunicação jornalística e no da formação de leitores críticos. Buzato, nas suas reflexões, afirma que os letramentos digitais não são apenas, ou necessariamente, aqueles situados num contexto cultural/institucional/midiático particular, mas configurações específicas desses letramentos em rede acionadas em situações, para finalidades e/ou por sujeitos e comunidades de prática específicas. Porém, o potencial dos letramentos digitais para a formação de cidadãos críticos não se manifestará, apenas pelo contato dos sujeitos com o texto ou o meio; como no caso dos letramentos ditos tradicionais, a criticidade estará sempre na forma como o texto é interpretado e o meio praticado. Buzato finaliza o artigo de modo breve e conclusivo: ¨há que se pensar em uma ética de deixar fluir, transitar, conectar, como pressuposto para uma cidadania que preceda qualquer forma de territorialidade, lealdade ou capacitação¨.

Ao fazer referência ao letramento destacamos: a prática situada, o uso social da leitura e escrita, e os seus diversos usos. Esses comportamentos são agrupados em duas grandes dimensões: a dimensão individual e a dimensão social. A dimensão individual visa o ¨próprio¨ interesse do indivíduo e consequentemente está associado à sua evolução ou ¨crescimento¨ pessoal. A dimensão social enfoca o contexto em que o indivíduo está inserido, e tem como destaque a autonomia e a ideologia.

Marcelo Buzato, em seus estudos, afirma que pessoas alfabetizadas não são necessariamente pessoas letradas. Para o autor, mesmo sabendo "ler e escrever", isto é, codificar e decodificar mensagens escritas, muitas pessoas não aprenderam a construir uma argumentação, redigir um convite formal, interpretar um gráfico, encontrar um livro em um catálogo, etc. Esse tipo de conhecimento se constrói na prática social e não na aprendizagem do código por si só. Segundo Buzato, tem gente que acha que o problema da exclusão digital se resolve comprando computadores para a população de baixa renda e ensinando as pessoas a utilizarem esse ou aquele software. A inclusão implica em práticas sociais em que o computador tem um papel relevante, e que levem as pessoas, aos poucos, e de forma cada vez mais autônoma, a desenvolver determinadas habilidades. O letramento digital inclui a habilidade para construir sentido a partir de textos que mesclam palavras, elementos pictóricos e sonoros numa mesma superfície (textos multimodais), a capacidade para localizar, filtrar e avaliar criticamente informação disponibilizada eletronicamente, familiaridade com as "normas" que regem a comunicação com outras pessoas através do computador (Comunicação Mediada por Computador ou CMC), entre outras coisas. Resumindo, segundo o autor, letramento digital (LD), é o conjunto de conhecimentos que permite às pessoas participarem nas práticas letradas mediadas por computadores e outros dispositivos eletrônicos no mundo contemporâneo.


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